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  • Foto do escritorVanessa Rozan

#FREEMEUNARIZ

Como eu posso amar meu nariz se vivo mergulhada em imagens de narizes perfeitos?



Quem nunca cogitou mexer em algo do rosto que atire a primeira pedra. Eu não to aqui pra julgar procedimentos estéticos, muito menos cirurgiões renomados e pessoas que decidiram mudar algo de seu desenho facial com a ajuda de implantes, aplicações e todo tipo de procedimento. Eu quero é mais ver o povo feliz com a sua imagem, se amando como nasceu ou como decidiu se fazer.

Esse texto é mais reflexão do que crítica ou juízo de valor.

O que eu quero que a gente pense aqui RAPIDINHO: como que alguém pode ficar feliz com a sua imagem e se aceitar como veio ao mundo consumindo só imagens de pessoas que modificaram suas faces para se adaptar a uma pressão, uma vontade ou um padrão?


COMO?



Você vai olhar no espelho e achar que tá errada/errado! CLARO!


A maioria esmagadora das atrizes de cinema tem o nariz como? E o nariz das modelos ? E as apresentadoras de TV? E o das influenciadoras de beleza?

Esse nariz é, na maioria esmagadora das vezes, pequeno, dócil, recatado, um pouco arrebitadinho, sutil, discreto e mais importante: FINO. Nem precisa passar o ar, é só de enfeite mesmo.

A situação fica bem mais complicada no caso das musas pretas, que também sofrem a pressão estética em dobro: da raça e do gênero, e muitas "tem" que se adaptar por indicação dos agentes, das gravadoras, do sistema que tá rodando aí e a gente não tá vendo, não tá se dando conta da MATRIX.

Cês precisam segurar na minha mão e tomar a pílula pra acordar dessa matrix (confesso que não lembro se era a azul ou se era a vermelha, no filme). Gosto é uma construção social, e esse narizinho está sendo servido há décadas como o "jeito certo" de ser, o melhor e mais bonito.

Eu vejo mais e mais mulheres insatisfeitas com seus traços genéticos. Os procedimentos estão cada vez mais acessíveis, esses dias mesmo eu vi que no shopping (calma, entrei em um antes da quarentena, gente) tem uma clínica de harmonização facial. Assim, eu compro uma brusinha e um nariz novo, no mesmo lugar.

Tô criticando a clínica? Não, eles estão querendo atender essa clientela insatisfeita e ganhar dinheiro. Não estão errados, em nada.

O mercado está aproveitando que estamos vivendo nessa bolha, nesse lugar que consumimos as imagens alteradas por plástica, por filtro, por suavizador de pele da própria câmera do celular e achamos que aquela referencia é a correta, é a melhor.

Nesse momento a gente pode inclusive testar um novo nariz ao vivo em nosso smartphone, afinal já existe app que só faz isso, sim, acredite.



Uma vez que essa versão "melhorada" de mim existe, eu passo a nunca mais aceitar a versão real e ainda mais: me dedico dia e noite a trabalhar para conquistar essa outra versão, esse eu-mexido.

Você sempre vai olhar para o seu nariz de verdade e sentir ódio dele, em diferentes graus desse sentimento, mas é meio que isso.

Tenho a solução?

Não.

Sou o exemplo da autoaceitação?

Não.

Mas, sou profissional da beleza e trabalho realçando belezas. Por estar dentro da bolha e consciente das pressões estéticas, eu escolho não reforçar esses padrões. Quer afinar o nariz na minha cadeira? A gente vai sentar e vamos ter uma conversa longa sobre narizes. Sobre a herança genética dos seus, sobre o apagamento da história da sua família e da sua beleza e sobre a construção de um ideal de beleza que não existe, que não pode ser alcançado. Depois disso tudo, se você ainda quiser, eu até faço, mas pelo menos estamos aqui lúcidas tomando essa decisão.


E agora, a reflexão é aí dentro, toma a pílula azul ou vermelha?






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